Warwick Estevam Kerr

De Biografias - Entomologistas Brasileiros
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Warwick Estevam Kerr - Foi um Engenheiro Agrônomo e Biólogo (1922-2018), professor, entomologista e pesquisador brasileiro.

Área de Atuação

Genética, Abelhas

Biografia

O engenheiro agrônomo, geneticista e biólogo Warwick Kerr é considerado o maior especialista em genética de abelhas do mundo. Entre seus principais trabalhos, está a introdução no Brasil da abelha africana, em 1956. Posteriormente desenvolveu um novo tipo de espécie de abelha, denominada "africanizada", feita por meio de um híbrido das espécies europeia e africana, mais dócil e grande produtora de mel. Kerr ficou conhecido internacionalmente em 1950, quando realizou um trabalho inédito sobre a determinação de castas em abelhas do gênero Melipona (sem ferrão).

Professor da Universidade Federal de Uberlândia, Warwick Kerr tem 585 artigos publicados. Como engenheiro agrônomo, o destaque de suas pesquisas é a descoberta de um tipo de alface com 20 vezes mais vitamina A que o tipo comum. Essa hortaliça é usada de forma eficaz no combate da avitaminose.

Nascido em Santana de Parnaíba/SP a 9 de setembro de 1922, o cientista foi o primeiro brasileiro eleito membro estrangeiro da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos, em 1990. Foi reitor da Universidade Estadual do Maranhão, além de primeiro diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp); foi presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Sociedade Brasileira de Genética. Foi presidente da SBPC (1969-1971 e 1971-1973).

Em 1946 ingressou como Professor Assistente no Depto. de Genética da ESALQ-USP. Em 1948, defendeu Tese de Doutoramento sobre a vida das Abelhas sem ferrão (Estudos sobre o Gênero Melipona) seu principal material biológico de pesquisa até hoje. Em 1951 fez Pós-Doutorado na Universidade da Califórnia e em 1952, na Columbia University. Em 1958 foi para Rio Claro-SP onde criou o Curso de Biologia, na FFCL de Rio Claro, UNESP. Em 1962 (1962-1964) tornou-se o primeiro Diretor Científico da FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo) a pedido do Governador do Estado. Na FAPESP impôs uma regra que foi um dos alicerces para que essa Fundação se tornasse o que é hoje: apenas 5% dos Recursos poderiam ser gastos com administração e o restante deveria ser destinado à pesquisa. Em 1964 implantou na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto / USP, o Depto de Genética e a Pesquisa com Abelhas e em 1970, o Curso de Pós-Graduação em Genética.

Em 1975 foi indicado pelo Presidente da Republica para assumir a Direção do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), promovendo nessa gestão a integração INPA-UFAM (Universidade Federal do Amazonas) e criando 04 cursos de Pós-Graduação.

Em 1979 retornou à USP de Ribeirão Preto (onde se aposentou em Janeiro/1981) e em 1981 foi como Professor Visitante para a Universidade Federal do Maranhão / UFMA, onde criou o Curso de Biologia.

Em 1987 assumiu, a convite do Governador do Estado do Maranhão o cargo de Reitor da Universidade Estadual do Maranhão.

Em 1988 passou a compor o corpo docente da Universidade Federal de Uberlândia como Professor Titular de Genética e nessa Universidade implantou, em 1994, o Curso de Pós-Graduação em Genética e Bioquímica.

Em 1999 foi, novamente, indicado pelo Presidente da República para o cargo de Diretor do INPA, onde permaneceu até 2002 como Diretor e por mais 01 ano para implantar o GPA (Grupo de Pesquisa em Abelhas) do INPA

Em 2003 retornou à UFU (Universidade Federal de Uberlândia) onde, após aposentadoria compulsória, permanece até hoje, em seus gloriosos 86 anos, completa 87 em Setembro próximo.

Paralelamente a todas as atividades administrativas, continuou suas atividades de pesquisa e contabiliza nesses anos, mais de 600 trabalhos científicos completos publicados em periódicos Nacionais e Internacionais.

Dr. Kerr é membro da Academia Brasileira de Ciências, da Academia Paulista de Medicina, da Academia de Ciências do Estado de São Paulo

Foi Presidente da SBG (Sociedade Brasileira de Genética) e Presidente da SBPC (Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência).

Dr. Kerr recebeu muitas honrarias/distinções/títulos em reconhecimento pelo seu intenso trabalho, dos quais vou destacar aqui apenas as que lhe foram concedidas nesse Estado, no Brasil e fora dele, deixando de apresentar as várias honrarias recebidas nos demais Estados do Brasil:

Em 1990 tornou-se Membro Estrangeiro da Academia Nacional de Ciência dos Estados Unidos, sendo o primeiro brasileiro a ser convidado para ingressar nessa Academia.

Em 1994, foi admitido pelo Presidente da República à Ordem Nacional do Mérito Científico no Grau de Grão Cruz.

Em 1995, foi introduzido como Comendador à Ordem dos Timbiras do Estado do Maranhão, pela Governadora. Ainda em 1995, recebeu o título de Engenheiro Agrônomo do Ano.

Em 1999, figurou entre os 30 Cientistas do Século XX, ao lado de Santos Dumont, Einstein, Sabin, Osvaldo Cruz, selecionados entre os milhares de cientistas de todo o mundo.

Recebeu, em 2001, a Medalha de Ouro Rodolpho Valle, da Câmara Municipal de Manaus-AM.

Em 2003, recebeu a Comenda Ordem do Mérito Legislativo na Categoria Grande Mérito, da Assembléia Legislativa do Estado do Amazonas.

Em 2003, o INPA instituiu a Medalha Warwick Estevam Kerr, concedida àqueles que prestam relevantes serviços à Pós-Graduação na Amazônia.

Em 2005, recebeu o título de Professor Honoris Causa da Universidade Federal do Amazonas/UFAM.

Entrevista concedida a Regis Farr, jornalista - Publicada em setembro/outubro de 1982.

Com mais de 300 publicações - 70% delas sobre a genética das abelhas - Warwick Estevão Kerr nasceu em Santana de Parnaíba (SP) em 1922. Formou-se pela Escola Superior de Agricultura da USP, universidade onde obteve o doutoramento em agronomia e a livre docência em genética.

Com quase 37 anos de vida acadêmica, foi professor e chefe do Departamento de Biologia da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, em Piracicaba, de 1945 a 1957, e da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Rio Claro (hoje Unesp), de 1958 a 1964, tendo nos últimos três anos acumulado a função de primeiro diretor científico da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

Entre 1955 e o ano passado, foi professor e chefe do Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (USP) e coordenador e fundador do curso de pós-graduação do departamento. Depois de aposentar-se como professor titular da USP, em janeiro do ano passado, assumiu a chefia do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Maranhão.

Entre 1975 e 1979, dirigiu o INPA (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia). Ex-presidente da SBPC e da Sociedade Brasileira de Genética, o professor Warwick Kerr, que começou a se interessar por abelhas antes mesmo de aprender a ler, já orientou 35 teses de pós-graduação e criou grupos de pesquisa em todos os institutos e unidades por onde já passou.

No meio acadêmico, a primeira associação que se faz ao nome de Warwick Kerr é a de um formador de grupos, de um catalisador de pessoas voltadas para o desenvolvimento científico. O senhor acha que o papel do cientista seja o de formar quadros, desenvolver pesquisas e deslocar-se para outros centros?

Realmente, minha intenção sempre foi esta: a de formar grupos fortes de pesquisa, com bons princípios, grande capacidade de trabalho e atuando dentro da filosofia de que a ciência deva ser produzida para o benefício da população. Tive bastante sucesso na formação de grupos e não sei o quanto este fato se deve à catálise. Até o ano passado, antes de ir para a Universidade Federal do Maranhão, eu fui favorecido com verbas adequadas e, se é verdade que dinheiro não faz um bom laboratório, não podemos esquecer que, sem ele, não se faz um laboratório.

Que tipo de problemas o senhor está enfrentando atualmente no desenvolvimento de seu trabalho em São Luís?

Minha principal dificuldade lá são os dois decretos governamentais que proíbem a criação de novos cursos e a contratação de novos professores. Para mim, quem criou estas leis esqueceu-se de que o Brasil cresce à razão de 2,5% ao ano. A criação de novos cursos é realmente irrelevante para as universidades do Sul, mas é vital para o desenvolvimento das do Norte e Nordeste.

Como presidente da SBPC no início dos anos 70, o senhor viu a comunidade científica atravessar graves problemas políticos, além do financeiro. Como o senhor vê o trabalho do cientista hoje, em tempos de abertura?

O trabalho do cientista depende muito da política governamental. Feliz ou infelizmente, a ciência é tremendamente dependente de quem está por cima. Profissionalmente, trabalho em ciência desde 1945 - antes disso já pesquisava, mas como aluno - e acho que não houve nenhuma época em que nós tivemos mais fundos para a pesquisa do que no governo do general Geisel. Pode-se criticá-lo pelo "pacote de abril", mas é possível que para a ciência, de 1945 até agora, ele tenha sido o melhor dos presidentes da República. No entanto, se hoje vivemos a abertura, há a fechadura de recursos para a pesquisa. O pior é que, ao lado desta insuficiência de fundos para um trabalho sério, a gente vê o esbanjamento de dinheiro com a Transamazônica, com o Projeto Carajás e com várias companhias estatais que, à exceção da Petrobras, não fazem pesquisa.

Mas recursos internacionais resolveriam o problema da pesquisa no país, uma vez que o senhor acha que o Brasil tem cérebros suficientes?

Eu acho que a pesquisa caminha mal porque um país em desenvolvimento deveria reservar um mínimo de 3% de seu produto interno bruto para a pesquisa. Além disso, é preciso haver uma política nacionalista. De que adianta alguém desenvolver uma invenção ligada ao automóvel se as firmas aí existentes - americanas, italianas, alemãs - não estão interessadas neste desenvolvimento? A nacionalização das indústrias tem que envolver também a nacionalização dos cérebros, e é preciso que essas empresas façam suas pesquisas aqui no Brasil, com pessoal especializado nosso, porque cérebros nós temos. Só falta uma estrutura política que aproveite os recursos nacionais.

Na 34.a reunião, a SBPC homenageou o senhor por sua contribuição ao desenvolvimento da ciência no país. Do seu ponto de vista, qual foi sua maior contribuição à ciência brasileira?

Acho que foi a formação de pessoal, não só a de mestres e doutores, mas de todos aqueles alunos de graduação que ficaram à minha volta desde Piracicaba até hoje. Em segundo lugar, eu colocaria a formação de laboratórios em Rio Claro, Piracicaba, Ribeirão Preto, Manaus e, agora, São Luís. Diria que a outra contribuição foi o exercício da presidência da SBPC entre 1969 e 1973, num período trágico da vida nacional, quando o presidente era o general Médici e nós tínhamos o problema das torturas. Vários cientistas que foram torturados estão hoje aqui na SBPC, como Luís Antônio de Oliveira Campos - vá ver os dentes dele - e a professora Amélia Hamburger. Temos também cassados, como o casal Baeta Henriques e tantas outras pessoas... Foi uma época muito triste, essa. Eu me lembro que, quando o doutor Isaías Raw foi embora para os Estados Unidos, o substituto dele disse: "Que pena que um homem que trabalha tanto pela ciência das crianças vá trabalhar pelas crianças norte-americanas, deixando as daqui!"

Dentro desta linha de formar novos elementos para a comunidade científica, parece que o seu trabalho na direção do INPA foi dos mais produtivos...

Quando cheguei lá, havia 20 pesquisadores em Belém e 26 em Manaus, entre os quais apenas dois doutores e dois mestres. Quatro anos e meio depois, quando saí, o INPA tinha 266 pesquisadores, entre eles uns 50 mestres e uns 60 doutores. O que fizemos foi mandar para o Sul ou para o exterior todo o pessoal aproveitável para fazer mestrado e doutorado. Três ou quatro anos depois, eles voltaram. Também contratamos um colosso de gente, dando preferência ao pessoal da Amazônia. Em segundo lugar, contratamos o pessoal brasileiro de outras regiões e, por fim, os que pudessem ajudar no problema da região, de onde quer que viessem. O projeto do INPA era o de ter mais de mil pesquisadores na Amazônia, com uma centralização bem fluida em Manaus e uma reunião a cada dois anos para evitar superposição de trabalhos e permitir a troca de opiniões; tratava-se de um verdadeiro congresso da ciência tropical. O projeto não pôde ser realizado por falta de fundos e é um contra senso ver-se que, hoje, a Universidade de São Paulo tem mais de 4.000 pesquisadores e a Amazônia não chega a ter 500.

Que linhas de pesquisa o senhor está desenvolvendo em São Luís?

Genética e melhoramento de hortaliças — trabalho com umas 30 espécies diferentes, genética e melhoramento de fruteiras - também umas 30, e genética e melhoramento de abelhas. Estamos trabalhando com a tiúba, uma abelha sem ferrão, grande, forte, criada pelos caboclos maranhenses como fonte de riqueza, de produção.

Este aproveitamento do material local e o respeito aos conhecimentos observados pelos nativos costumam ser destacados como características de seu trabalho...

Eu acho que em engenharia, biologia e ciências de saúde, a gente deveria fazer pesquisas de impacto imediato, ouvindo as pessoas para saber quais são os seus problemas. Precisamos transformar nossos laboratórios em um agente do segundo mandamento - amarás o próximo como a ti mesmo. Isto não quer dizer que eu seja contra a ciência pura, inclusive porque um dos meus campos principais é a genética da determinação dos sexos, que é ciência absolutamente pura.

Como membro da comunidade científica, que sugestão o senhor poderia dar ao governo para que as condições de vida do país sejam melhoradas?

Uma medida que eu acho que deveria ser tomada imediatamente seria a de não mais pagarmos patentes. Deveríamos sair do acordo internacional, para podermos copiar os inventos sem o pagamento de royalties, como é feito no Japão . Pelo menos por dez anos poderíamos copiar e traduzir os livros que quiséssemos, sem pagar coisa nenhuma. Não seria uma medida antiética porque iria salvar da miséria os cérebros que se estão degenerando. Muitas das descobertas foram fechadas às outras partes do mundo por grandes companhias, num controle artificial da produção científica. Eu sou a favor de uma abertura de todas as pesquisas, inclusive porque este é, em geral, o desejo dos cientistas.

Nos deixou em 14/09/2018 aos 96 anos que completara em 09/09/2018.


Fontes

Warwick Estevam Kerr (1922-2018) - Presidentes de Honra da SBPC

Homenageado da 61ª Reunião Anual da SBPC - Warwick Estevam Kerr


Outras Fontes

Capítulo sobre Warwick Estevam Kerr no livro "Cientistas do Brasil"

Vídeo Homenagem a Warwick Estevam Kerr (UFU/Presidente de Honra da SBPC). 61ª Reunião Anual da SBPC, Sessão de Abertura