Jocélia Grazia

De Biografias - Entomologistas Brasileiros
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Jocélia Grazia - é Bióloga (História Natural), entomologista e pesquisadora brasileira .

Jocélia Grazia
Imagem: Jocélia Grazia

Área de Atuação

Hymenoptera Parasitóides, Taxonomia

Biografia

Possui graduação em História Natural pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (1965) e doutorado em Parasitologia pela Universidade Estadual de Campinas (1976); pós-doutorado no American Museum of Natural History, New York. Atualmente é professor titular aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, com vínculo de Docente Convidado. É Pesquisador 1B do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), ex-membro e coordenador do Comitê Assessor de Zoologia do CNPq, Presidente do Conselho Deliberativo da Sociedade Entomológica do Brasil (SEB), ex-Presidente da SEB, ex-President and Past President of the International Heteropterists' Society (IHS), Honorary Member of IHS. Membro atual do Council of International Congress of Entomology. É lider do Grupo de Pesquisa em ENTOMOLOGIA (Sistemática, Biologia, Ecologia, Morfologia e Comportamento de Insetos). Tem experiência na área de Zoologia, com ênfase em Taxonomia dos Grupos Recentes, atuando principalmente em sistemática e taxonomia de Heteroptera, Pentatomoidea, Pentatomidae, morfologia de genitália, filogenia, biodiversidade.¹

Apesar das características de metrópole, Caxias do Sul, localizada no Nordeste do Estado do Rio Grande do Sul, orgulha-se do seu passado de cidade bucólica. Colonizada por imigrantes italianos desde 1875, exporta de vinhos a talentos científicos e esconde entre o caminho de um vinhedo e outro, histórias só reveladas a poucos.²

Ao lado do lastro agrícola, das tradições italianas, a cidade - hoje uma metrópole - exportou nomes expressivos da ciência nacional como Jocélia Grazia. Oriunda de uma família de descendentes italianos - originários da região de Modena miscigenada a alemães, portugueses e índios -, os pais brasileiros Amílcar e Olenka trabalhavam, respectivamente, como bancário e professora de educação física e ofereceram às três filhas uma educação liberal com responsabilidade.²

Sobre a responsabilidade, Jocélia confessa acreditar-se numa herança materna. Ainda na década de 40, no interior do Rio Grande do Sul, a mãe Olenka enfrentou as dificuldades inerentes da época para partir de encontro ao seu desejo profissional. Embora contasse com o apoio paterno, ainda muito jovem, saiu de casa para trabalhar, como professora primária, em Iraí, no extremo sul do estado do Rio Grande do Sul, o que mais tarde lhe renderia conquistas profissionais importantes.²

Jocélia morou em Caxias do Sul até os 15 anos, período entrecortado por uma estadia de dois anos em São Paulo, devido à transferência do pai pelo Banco da Província do Rio Grande do Sul.²

Curiosa desde menina, adorava receber de presentes livros e, através dos quais, construía um mundo imaginário, que extrapolava a então pequena Caixas do Sul. Entre os prediletos, os de aventura recheados de ficção: 20 mil Léguas Submarinas, Piratas no Caribe, Peter Pan estão na lista dos mais apreciados.²

Da infância, ainda guarda recordações especiais das brincadeiras com os muitos amigos e com as irmãs Jane Grazia Dacorso, Bacharel e Licenciada em Química, e Joyce Grazia Madalosso, Licenciada em Educação Física, como a mãe. Ao lado da residência da família, não escapava aos olhos de menina a pracinha vizinha, onde o corre-corre inerente à idade era uma das brincadeiras favoritas assim como os balanços, a roda de girar, a gangorra, argolas e as barras. Refúgio certo para onde escapava todos os dias depois da escola.²

Saltos maiores eram dados nos finais de semana junto aos amigos familiares e, como não poderia deixar de ser numa cidade tradicionalmente vinícola, viajavam para Estação de viti-vinicultura em Flores da Cunha.²

Devido às inúmeras transferências do pai, Jocélia não preservou muitos amigos de infância. Além da transferência para a capital paulista, o último ano do então segundo grau cursou em Bento Gonçalves. Porém, revela lembrar-se muito das faces e das características dos amigos mais próximos.²

De partida para Porto Alegre, Jocélia optou pelo curso de Historia Natural, em primeiro lugar porque apreciava os bichos e, como não conseguiu transpor o medo de ver sangue para cursar a Medicina, acabou obtendo os títulos de Bacharel e Licenciatura em Ciências Naturais, na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, em 1966.²

Na carreira profissional, iniciou como pesquisadora do Museu de Ciências Naturais do Estado do Rio Grande do Sul na área de Sistemática e Biologia de Pentatomídeos, insetos pertencentes à ordem Hemiptera (Heteroptera).²

Orientada ainda durante o curso de graduação pelo Dr. Ludwig Buckup, então Diretor do Museu Rio-Grandense de Ciências Naturais - hoje Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul -, enveredou pela carreira de pesquisa em 1964, tendo, no ano seguinte conquistado uma bolsa do Conselho Nacional de Pesquisa que, apesar de passados 40 anos, ainda a mantém.²

Hoje, Ludwig Buckup é carcinólogo. Graças a suas orientadas, a pesquisa com os percevejos-do-mato continuou, não só no Museu de Ciências Naturais, como também na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, onde em colaboração com Miriam Becker passou a atuar, com continuidade na Unicamp para onde Jocélia se transferiu em 1975. Mesmo trabalhando em instituições distintas, a pesquisa prosseguiu e vários gêneros de Pentatatominae e Discocephalinae foram revisados.²

Conta José Jurberg que na década de 70, Jocélia e sua amiga Miriam Becker vieram estagiar no seu laboratório no Departamento de Entomologia do Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro, para se aperfeiçoarem em morfologia das genitálias de hemípteros, que vinha se mostrando uma ferramenta importante para diferenciar as espécies. O estágio no Instituto durou cerca de um mês, mas após seu retorno, iniciou-se uma frutífera troca de correspondências, pois no Rio Grande do Sul não existiam bibliotecas que pudessem fornecer as bibliografias necessárias para o estabelecimento de um banco de dados.²

Ao optar pela Universidade Estadual de Campinas em 1976 para desenvolver o Doutorado, teve ainda oportunidade de atuar como docente até 1980. Este período foi marcante na Universidade paulista que conquistou a implantação das atividades de pesquisa e ensino de pós-graduação e ainda incrementou algumas disciplinas no curso de graduação. O Departamento de Zoologia da Unicamp já contava com um número considerável de pesquisadores, com ampla experiência no Brasil e em outras áreas da região Neotropical, fato que apoiava e justificava criação de um Curso de Pós-Graduação.²

O curso era uma das aspirações da maioria dos docentes e sua implantação se concretizou em agosto de 1975, quando foi selecionada a primeira turma para iniciar o Programa de Mestrado em Ecologia, a partir de março de 1976. Deste empreendimento, estiveram envolvidos os departamentos de Zoologia, Morfologia e Sistemática Vegetais, Genética e Evolução, Fisiologia Vegetal e Parasitologia do Instituto de Biologia.²

Em 1980, resolveu retornar à terra natal e logo a seguir entrou na Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Na Instituição, prestou concurso público e assumiu o cargo de Professora Titular do Departamento de Zoologia.²

Em sua trajetória profissional, Jocélia assumiu várias funções executivas e administrativas, tendo destacado-se no exercício da Direção Executiva do Museu de Ciências Naturais da Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, a chefia do Departamento de Zoologia, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Editoração dos Anais da Sociedade Entomológica do Brasil por oito anos e ainda Presidente desta Sociedade por dois mandatos consecutivos. Juntamente com seus colegas do Departamento de Zoologia da UFRGS lutou pela abertura de um curso de pós-graduação em Zoologia, o que foi finalmente concretizado em 1994. No curso, exerceu a Coordenação por um mandato de dois anos, além da Vice-Coordenação em dois períodos distintos. Mais recentemente, na administração central da universidade, foi chamada para exercer a Pró-Reitoria de Pós-Graduação, onde atuou no biênio 2003-2004. É atualmente Presidente da International Heteropterists' Society, entidade que congrega os pesquisadores em heterópteros no mundo inteiro.²

Para Dr. Antonio Ricardo Panizzi, que a conhece há mais de 30 anos, Jocélia é uma pessoa extremamente dedicada, competente naquilo que faz e um exemplo de pessoa envolvida com o ensino e a pesquisa, como também dedicada à administração pública, como foi recentemente Pró-Reitora, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).²

Amigos de longa data, Panizzi confessa que a convivência de ambos permitiu que aprendesse muito sobre taxonomia dos Pentatomídeos e da sua importância para a ciência. Como sempre esteve mais ligado à área aplicada, o convívio foi muito importante e, em muitas ocasiões, Jocélia identificou os percevejos-pragas com os quais estava trabalhando.²

Como pesquisadora, publicou uma centena de artigos em revistas nacionais e internacionais, contribuindo ainda em palestras sobre temas livres, coordenando mesas-redondas em eventos científicos e proferindo palestras em diferentes regiões do país.

Realizou pesquisa de campo em áreas de Mata Atlântica e Campos Sulinos, com o financiamento de CNPq num projeto sobre a Biodiversidade de Insetos naquele estado: Hemiptera, Lepidoptera, Thysanoptera e Diptera-Cecidomidae, do qual participaram as equipes dos Laboratórios de Entomologia Sistemática, Entomologia Ecológica e de Interação Inseto-Planta, do Departamento de Zoologia da UFRGS. Experiências que são acrescidas ainda ao período em que permaneceu na Unicamp e realizou trabalho de campo na Amazônia sobre levantamento de insetos.²

Diante de vasta experiência de campo e de laboratório, acabou por contribuir com o conhecimento da entomofauna neotropical através de estudos taxonômicos com a revisão de gêneros de interesse científico, faunístico e econômico (pragas agrícolas). Realizou estudo da biodiversidade como contribuição ao conhecimento da entomofauna neotropical e requisito básico para a conservação. Participou da formulação de propostas de classificação natural através do uso da metodologia cladística. Forneceu informações de caráter básico sobre a biologia, ecologia e comportamento de insetos em geral, insetos-praga em particular, como subsídio para programas de conservação e manejo.²

Jocélia ainda contribuiu na identificação de heterópteros para outros pesquisadores e o público em geral e de material de coleções entomológicas do Brasil e do exterior com o fornecimento de bases teóricas para ecologia de populações e o desenvolvimento de projetos em Entomologia e Educação Ambiental.²

Na década de 90, realizou pós-doutorado nos Estados Unidos, desenvolvendo projeto de sistemática filogenética de Pentatomoidea (Heteroptera) no American Museum of Natural History. Nesse período, desenvolveu estudos com o Professor Randall T. Schuh, cujos resultados foram apresentados no Congresso Internacional de Entomologia realizado em Foz do Iguaçu em 2000. Para ela, um dos destaques de sua produção científica: a Filogenia de Pentatomoidea. E aguarda para breve a publicação de artigo fruto das pesquisas dessa época.²

Como docente em nível de graduação e atuando em quatro cursos de pós-graduação no Rio Grande do Sul, orientou inúmeros estudantes em iniciação científica, mestrado e doutorado.¹,²

Casada com o cirurgião dentista, Dr. João Germano Eisenhart há 20 anos, adotou a filha do marido, Vanina Eisenhart Lasseron, que atualmente reside nos Estados Unidos.²

Jocélia acredita que a Entomologia é uma área de pesquisa em expansão no Brasil, com grande necessidade de formação de especialistas, desde os entomólogos aplicados, voltados para o conhecimento e solução de problemas nas áreas de saúde, agropecuárias, zootecnia até a área básica como a entomologia sistemática, ecológica, genética, microbiológica e outras. Para ela, a sistemática, área a qual se dedica, é de fundamental importância para o conhecimento da biodiversidade no nosso país e sua adequada exploração.²

Jocélia gostaria de atrair jovens estudantes para a entomologia e confia que não é tarefa difícil, pois quando se acredita naquilo que se faz e se ama o dia-a-dia nem sempre fácil, o poder de convencimento flui e a atração de jovens talentos acontece espontaneamente.²

Na sua opinião, a Universidade do Rio Grande do Sul, situa-se entre as três melhores de sua categoria, e é destaque pela excelência no conjunto do ensino de pós-graduação e pela qualidade e diversidade de seus cursos de graduação. Entretanto, como todo o ensino público brasileiro sofre com a falta de recursos para pesquisa e a diminuição progressiva de seu corpo docente na última década. Jocélia faz parte de um grupo de professores que aposta na reforma para estancar esse processo progressivo de perda de qualidade e que leve em consideração demandas dos distintos segmentos da própria universidade brasileira.²

Acredita que um país só se desenvolve plenamente se investir maciçamente na educação e na ciência. O Brasil com todas as suas potencialidades poderia ter de seus dirigentes (políticos e executivos) uma atuação mais propositiva, na política científica, cobrando mais responsabilidade, planejamento e cumprimento de metas. E por fim, um sonho de poder participar dos processos científicos, investigando e formando novos pesquisadores em entomologia ainda por alguns anos.²

Fontes

1. Currículo Lattes - Jocélia Grazia

2. Jurberg, C. 2005. Jocélia Grazia. Entomología y vectores 12(1):1-18 Disponível em: www.scielo.br/pdf/ev/v12n1/v12n1a01.pdf